FIDC: O que é e como funciona? - Global Financeiro Skip to main content

Já vimos bastante sobre diferentes tipos de fundos de investimentos classificados pela ANBIMA, porém hoje vou tratar de outro tipo de fundo que não faz parte daquela lista: o FIDC.

Eles não são tão populares e conhecidos como os outros Fundos de Investimentos, mas deveriam ser, afinal, estamos falando de uma indústria que em 2017 cresceu 89% em novas emissões. Isso até julho que é quando temos o último dado da ANBIMA.

Ou seja, considerando o resultado até o meio do ano de 2018, as emissões de FIDC cresceram 89% em relação à 2016. Isto significa R$ 7,8 bilhões em recursos aplicados nesse tipo de fundo.
Além disso a quantidade de fundos ativos subiu de 565 para 660, demonstrando que novos lançamentos continuam sendo feitos.

Por isso, é bom conhecer e estar atento nesse mercado. Neste post você irá descobrir o que é um FIDC e como ele funciona.

Apesar de ser um fundo de investimento, os FIDCs utilizam-se de instrumentos muitas vezes fora do mercado financeiro (Direitos Creditórios), por isso merecem uma análise mais detalhada.

  1. O que é FIDC

  2. Riscos do Investimento em FIDC

  3. Vantagens do FIDC

  4. Desvantagens do FIDC

  5. Custos e tributação do FIDC

  6. Como investir em FIDCs

O que é FIDC – Fundo de Investimento em direitos creditórios

Um FIDC é um fundo de investimento que busca retorno através de direitos creditórios. Legalmente, destina 50% ou mais de seus recursos em direitos creditórios.

Mas, o que são Direitos Creditórios?
Direitos creditórios são os valores que uma empresa, de qualquer segmento da economia, tem a receber. Ex: duplicatas, cheques e outros.

Pense que uma empresa do ramo alimentício vende R$ 200 mil em biscoitos para uma rede de supermercados. Vende à prazo. Ela tem, portanto, uma duplicata de R$200 mil programada para receber, digamos, em 30 dias. No entanto, a empresa possui compromissos e necessita do recurso imediatamente. Ela então pode vender esta duplicata para um investidor interessado e receber o valor antecipado. Aí, nesta antecipação, entra o FIDC.

O fundo (FIDC) se dispõe a pagar o valor da duplicata para a empresa em troca do direito que a empresa tem de receber a duplicata. Para conseguir essa antecipação do valor, a empresa abrirá mão de uma parcela do crédito que tem direito, esta parcela varia de acordo com a negociação com o FIDC.
O rendimento do FIDC virá exatamente da diferença entre o valor antecipado e o valor da duplicata a ser recebida em 30 dias. Portanto, o direito de crédito passa a ser do Fundo de Investimento (FIDC) e não mais da empresa e quanto maior for o percentual de desconto, maior o lucro do Fundo.

Para ilustrar melhor o funcionamento dessa operação, considere que a empresa do ramo alimentício pretende antecipar o recebimento dos R$ 200 mil que tem para receber em 30 dias para a data de hoje, vendendo esse direito creditório. Então um FIDC compra esse direito de crédito por, suponhamos, R$ 150 mil.
A empresa recebe do fundo R$ 150 mil e, depois de 30 dias, o FIDC tem o direito de receber R$ 200 mil correspondente à duplicata.
Essa diferença nada mais é do que uma espécie de taxa de juros que a empresa pagará ao FIDC.

No exemplo, a taxa embutida na operação é de 25% (R$ 150 mil de R$ 200 mil). Desse modo, um FIDC é caracterizado como um fundo de renda fixa.

Riscos para os investidores em FIDCs

Pelo exemplo que descrevi acima, o FIDC pareceu bastante atrativo, não é?
Em apenas uma transação teve retorno de 25% (e essa não é uma taxa totalmente fora do padrão para os FIDCs).

Entretanto, precisamos considerar algo de extrema relevância. Já de seu conhecimento que 30 dias é um tempo para rendimento em taxas de juros. Preciso alertar, é necessário levar em conta outro fator de risco: o Risco de Crédito.
“Risco de Crédito é a incerteza: ao final do período, eu vou receber o rendimento acordado?”

Pois é, não tem garantia absoluta. A inadimplência, infelizmente, existe e em taxas alarmantes.

Voltando ao nosso exemplo da empresa do ramo alimentício, em que o FIDC pagou R$ 150 mil para ter o direito de receber os R$ 200 mil. Tudo estava indo muito bem até aí, mas quando chega o dia de receber, acontece o inesperado. A rede de supermercados que comprou os produtos alimentícios não paga a duplicata, por algum motivo. Aí mora o perigo! Quando o FIDC comprou o direito de crédito, ele isentou a empresa do ramo alimentício de qualquer responsabilidade sobre o crédito.

É por isso que a taxa de juros embutida na operação geralmente é elevada, pois caso haja inadimplência o fundo pode ter perdas substanciais de seu patrimônio. Para evitar esta perda, o FIDC avalia o sacado para tentar amenizar os riscos.

Vantagens do FIDC

Vamos aos pontos fortes desse tipo de investimento.
Sem dúvidas, o que mais atrai em um FIDC é sua alta rentabilidade. Quando comparado à outros fundos de renda fixa.

Enquanto os fundos de renda fixa conseguem 120% do CDI, dizemos que foi uma ótima rentabilidade. Para os FIDCs não é difícil encontrar rendimentos acima de 150% do CDI.

Os FIDCs tem a característica de seguirem o ciclo da economia. Ou seja, quando a economia vai bem, os fundos tendem a ir bem também e vice-versa.

Essa característica decorre do fato de que, como o fundo precisa receber o que tem direito, quando a economia vai bem as empresas têm menos dificuldades de honrar seus compromissos. Quando a economia vai mal, se prepare para ter dificuldades em receber os valores.

Quando temos cenários de juros baixos (como o de agora) FIDCs também se mostram boas alternativas de investimentos. Naturalmente, com taxas de juros baixas, os outros fundos de renda fixa passam por maiores dificuldades do que aqueles que tem a rentabilidade atrelada a outros fatores, como o FIDC.

Caso esteja interessado em investir em FIDC, Para te ajudar a escolher um fundo, existem empresas de classificação de crédito, estas avaliam e divulgam os riscos dos FIDCs. A Austing Ratings faz um bom trabalho nesse sentido.

Sem dúvida, pensando em rentabilidade, o FIDC é uma opção considerável. Mas, tem suas desvantagens, vamos à elas!

Desvantagens do FIDC

“Quanto maior o rendimento, maior o risco.” 
Essa relação é bastante válida e para o FIDC não é diferente.

A natureza de seus rendimentos elevados está relacionada ao risco da operação. Há risco de inadimplência e existem poucas formas de se defender disso. A diversificação não é muito clara e muitas vezes não temos conhecimento pleno da empresa devedora.

Os tipos de perdas são diferentes de um investimento em ações onde, por mais doloroso que seja, é possível limitar as perdas. Um direito creditório, caso a empresa devedora decida não pagar, a perda geralmente é na totalidade do título, sem meio termo.

Portanto, é de suma importância estudar e verificar todos os riscos da aplicação.

Além desse ponto de risco, o FIDC tem outras desvantagens, como:

  1. Não possui a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito);

  2. Investimento inicial é relativamente alto, de R$ 25 mil;

  3. A liquidez (velocidade com que pode se desfazer do investimento) é baixa;

  4. Restrito apenas à investidores qualificados (mais de R$ 1 milhão em patrimônio financeiro)

Custos e tributação do FIDC

Os FIDC, assim como qualquer fundo, contam com as velhas conhecidas Taxa de Administração e Taxa de Performance. Além dessas taxas, o FIDC sofre a incidência da também já conhecida cobrança do IR via tabela regressiva. Ou seja, quanto mais tempo você deixar o dinheiro aplicado, menor o imposto pago.

A tabela funciona da seguinte maneira:

Como investir em FIDCs

Agora que você analisou as vantagens e desvantagens, como fazer para investir?

Por envolver um risco elevado e conhecimentos além do básico, investir em um FIDC não é muito trivial. Você terá que procurar um banco ou corretora e conversar direto com uma pessoa da mesa de operações dessas instituições para conseguir ter acesso a esse tipo de investimento que, geralmente, não fica disponível diretamente pela plataforma online.

Além disso, como já citado acima, o investimento inicial costuma partir de R$ 25 mil e ser limitado apenas à investidores qualificados, o que torna o investimento inacessível para muita gente.

A ANBIMA fornece rankings por instituições financeiras que engloba todos os tipos e classes de fundo e pode te ajudar a encontrar algumas alternativas.

Esse arquivo é um consolidado com diversas informações, mas para facilitar, separei as 10 maiores instituições financeiras em Patrimônio Líquido que fazem gestão de FIDCS, listadas na tabela abaixo:

Instituição Financeira Patrimônio Líquido (em milhões)
BB DTVM S.A. R$21.033,88
OLIVEIRA TRUST DTVM R$19.546,84
BRADESCO R$8.488,84
TERCON ASSET MANAGEMENT R$4.739,51
INTEGRAL INVESTIMENTOS R$3.609,86
VOTORANTIN ASSET R$3.091,32
CAIXA R$2.607,38
JUS CAPITAL GESTÃO DE RECURSOS R$2.181,46
PETRA ASSET GESTÃO DE RECURSOS R$2.105,68
MERRILL LYNCH R$2.031,40

A forma mais prática, segura e fácil de investir em FIDCs é indiretamente através de Fundos de Investimento de Crédito Privado. Afinal, muitos fundos de Renda Fixa comuns encontrados nas plataformas das corretoras e bancos podem investir parte do dinheiro em FIDC, de forma já diversificada e bem selecionada para você.

Fundos como o Valora Guardian FIC FIM Crédito Privado, o Artesanal Crédito Privado FIC FIM,  ou o Exodus 60 FIC FIM Crédito Privado, por exemplo, fazem justamente esse tipo de operação, alcançando resultados de até de 140% do CDI com uma boa consistência.

Por isso, antes de tentar se aventurar diretamente num FIDC, talvez começar por um fundo de Crédito Privado seja uma boa ideia.

CONCLUSÃO

Agora você, investidor, sabe como funciona uma nova modalidade de investimentos. Os FIDCs costumam apresentar rentabilidade elevada, porém implicam em diversos riscos. Dessa forma, devem ser vistos como alternativas de investimento, ou seja, diversificação da sua carteira de investimentos e não investimento primário.

Esteja sempre atento às classificações de riscos e rentabilidade desse tipo de investimento para decidir da melhor forma se deve ou não alocar seus recursos em um FIDC.